Entrevista: Bertrand Camacho fala sobre desafios e oportunidades de abrir uma empresa estrangeira no Brasil

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Publicado em 16 de junho de 2023

Com base na experiência própria, o presidente fundador da Medinova Life Sciences se especializou em regularização de empresas estrangeiras no país

Expatriado no Brasil desde 2010, o francês Bertrand Camacho, natural de Rodez em Averyon, é o presidente-fundador da Medinova Life Sciences, importadora e distribuidora de dispositivos médicos que também oferece serviços regulatórios para empresas que desejam vender para o mercado brasileiro.

Em entrevista exclusiva ao blog da Medinova, Bertrand fala do caminho sinuoso que trilhou inicialmente para instalar de forma legal a sua empresa no Brasil e, com experiência própria, facilitar o trabalho de outras empresas.

Segundo Camacho, na última década, as regras para abrir uma filial em terras brasileiras mudaram muito e tornaram o processo mais ágil para quem já conhece e entende o mercado nacional.

A Medinova já conduziu a regularização de dezenas de marcas vindas da América do Norte e da Europa e tem, em andamento, negociações com empresas asiáticas.

Letícia Maciel: Quais são as razões pelas quais a Medinova vem conquistando a confiança de empresas que querem entrar no mercado nacional?

Bertrand Camacho:  Estamos há mais de 13 anos no Brasil. Nós mesmos trilhamos este caminho para ter os certificados necessários de atuação aqui. Somos uma empresa enxuta, mas temos um atendimento de altíssima qualidade. Já trouxemos para cá empresas americanas, francesas e hoje temos também um cliente finlandês.

Com o passar dos anos, construímos uma rede de relacionamentos muito forte com atores envolvidos no processo de regulamentação e certificação da empresa em órgãos como Anvisa, Inmetro e Anatel. São processos e players do setor logístico, tributário, aduaneiro e muitos outros. Nosso know-how encurta o caminho para quem quer investir aqui e, ao mesmo tempo, ter a tranquilidade e segurança de estar seguindo as regras locais.

Além disso, temos contatos com plataformas internacionais de apresentação de dispositivos médicos e fazemos a ponte entre fornecedores e compradores especializados. Entre elas, podemos citar MedicalExpo, MyCaribou, Infomedi, Business France e o DIT do Reino Unido, German Trade & Invest, Business Finland.

Para fazermos este tipo de mediação, que gera muitos negócios, estamos sempre participando de eventos do setor de saúde no Brasil e na França.

Recentemente, a convite da French Healthcare, apresentamos um seminário sobre condições de acesso ao mercado brasileiro para dispositivos médicos, com objetivo de ajudar empresas francesas a terem segurança neste processo.

Leticia Maciel: O que mudou no cenário de acesso ao mercado brasileiro na última década?

Bertrand Camacho: Quando chegamos aqui, o processo de abertura de uma empresa era extremamente burocrático e desorganizado. Sentimos na pele as dificuldades de importação no Brasil.

De 2014 para cá, a Anvisa racionalizou, revisou e simplificou as regras de regularização dos dispositivos médicos. A legislação mais recente, que entrou em vigor em março de 2023, amplia as possibilidades de exportadores entrarem no Brasil.

Letícia Maciel: Quais são os caminhos possíveis para instalar uma empresa estrangeira no Brasil?

Bertrand Camacho: Existem basicamente três formas de se entrar no Brasil: através de um distribuidor, um representante legal ou de forma independente, abrindo diretamente uma filial.

Neste sentido, é importante considerar alguns fatores. Se você escolhe um distribuidor, o registro da empresa fica no nome dele. Os distribuidores não fazem o registro da sua empresa e nem pedem licença sanitária para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regula o setor de saúde no Brasil.

Por meio de um representante como a Medinova, a empresa passa a operar no Brasil com a licença deste representante. Nós representamos e defendemos os interesses da empresa, não o interesse do distribuidor. Assim, o fabricante guarda o controle de seus produtos. Ele pode desenvolver seu departamento comercial com um primeiro distribuidor, mas a Medinova é quem vai cuidar do licenciamento sanitário.

O prestador de serviço precisa, obrigatoriamente, ter o Brazil Medical Device Approval Anvisa, concedido apenas a titulares brasileiros.

No caso de uma filial própria, o fabricante tem 100% do controle sobre seus produtos, mas o investimento é muito alto para quem ainda não testou o mercado brasileiro.

Letícia Maciel: A Medinova atende somente empresas que vendem produtos médico-hospitalares?

Bertrand Camacho:  Principalmente, mas nós começamos a atender há alguns anos empresas de outros segmentos. Atualmente, estamos ajudando a montar uma filial em um condomínio logístico. São locais onde você pode montar sua subsidiária, ou seja, você pode terceirizar a operação logística. A Medinova ajuda empresas a montarem sua estrutura em um galpão logístico e hospeda suas licenças sanitárias.

Letícia Maciel: Em média, quanto tempo leva para abrir uma empresa estrangeira no Brasil?

Bertrand Camacho: Isso varia em função, primeiramente, da categoria de produtos. Em geral, levamos de seis meses a 12 meses.

A depender do tipo de produto, tendo o Brazil Medical Device Approval já é possível disponibilizar o produto para venda no Brasil. Em outros casos, isso é possível até em 60 dias, o que era impossível anos atrás.

Para citar um exemplo, recentemente, uma empresa francesa entrou em contato com a gente achando que levaria dois anos para conseguir a aprovação, e conseguimos isso em 60 dias porque temos o conhecimento das etapas do processo.

Leticia Maciel: Quais são os principais desafios que as empresas estrangeiras enfrentam ao abrir uma subsidiária no Brasil?

Bertrand Camacho: O primeiro desafio é entender a legislação e conseguir fazer os registros de forma segura e profissional. A Anvisa é muito criteriosa. Ela melhorou muito os processos nos últimos anos. Além disso, é importante desfazer um mito. Alguns empresários ainda acham que Brasil é terceiro mundo, mas não é mais assim. A Anvisa opera em um padrão de primeiro mundo. Se não levar este rigor a sério, os pedidos podem ser indeferidos.

Temos cuidado e a agilidade no atendimento, e o contato direto que, para empresas de menor porte, é interessante.

É importante ficar atento também à estrutura tributária, mas neste sentido temos um recurso que é o cadastro no CEBAS, cadastro que tem exoneração tributária total.

Leticia Maciel: Quais são as principais oportunidades de crescimento para empresas estrangeiras no Brasil?

Bertrand Camacho: O mercado no Brasil não é fácil, entre outras razões porque é muito sensível a preço. O mercado da saúde está ficando muito dependente da China.

Por outro lado, temos uma oportunidade para fugir da questão do preço, que é a inovação. O setor da saúde absorve muito bem a inovação, e isso é positivo.

Se formos olhar nesta direção, temos agora as empresas de tecnologia na área de saúde, as chamadas healthtechs, que sempre podem melhorar os protocolos nesta área e abrir novos mercados.

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